Marcada pelo evento astronômico conhecido por Solstício de Inverno, a estação mais fria do ano começou dia 21 de junho, mas só termina e...
Marcada pelo evento astronômico conhecido por Solstício de Inverno, a estação mais fria do ano começou dia 21 de junho, mas só termina em 22 de setembro, para a alegria de muitos e tristeza dos friorentos que sofrem com baixas temperaturas. Antes da tetraplegia eu até que gostava do inverno, mas hoje eu adoraria passar esses três meses de sofrimento lá no calor de Fortaleza, no Ceará – cidade do nordeste brasileiro para onde fiz minha primeira viagem de avião com os benefícios, ou não, desses rótulos PCD (pessoa com deficiência) e PNE (pessoa com necessidades especiais) e etc.
Grande parte de quem vive numa cadeira de rodas sofreu algum tipo de lesão medular – seja em acidente de moto ou carro, por arma de fogo ou queda. E praticamente todos se queixam desta estação que acaba de começar, o inverno. Digo sem medo que é a maioria, pois a sensibilidade alterada é uma das consequências da lesão na medula espinhal, além da perda e fraqueza dos membros, do tronco e cabeça, dependendo da altura da lesão.
Eu lesionei a 5ª quinta vértebra cervical (C5), na altura do pescoço. Mas não foi uma lesão completa, que tenha partido a medula. Por isso, além de perder os movimentos das pernas, ter fraqueza nos braços e pouco controle de tronco, a minha sensibilidade também foi alterada – sinto o corpo todo, um pouco menos em algumas partes, e muito mais em outra. A sensação de dor exacerbada, com reações de incômodo por uma leve brisa, ou qualquer ventinho, é a tão comum entre nós lesados medulares, hipersensibilidade.
Geralmente alterada, a sensibilidade de um cadeirante, principalmente os tetraplégicos, é muitas vezes determinante na questão da qualidade de vida. Desagradável, o frio é, portanto, muito temido. Além de gerar tensão muscular, que acaba virando dor, o frio ainda pode aumentar as dores neuropáticas e a sensibilidade, interferindo no humor, na socialização e produtividade da pessoa.
Mesmo sabendo disso tudo, até hoje, às vezes ainda me pego tenso e dolorido, daí, lembro que estou só de camiseta, e com frio, é claro. É óbvio que nos agasalhamos quando sentimos frio. Mas ter a sensibilidade alterada requer uma percepção mais apurada das sensações do próprio corpo, portanto, é sim preciso estar atento à tensão dos músculos dos trapézios e ombros, joelhos frios, maxilar tremendo etc.
A temperatura pode não ser problema para aqueles que vivem em regiões mais quentes do Brasil. Mas como não é meu caso, mesmo vivendo no interior paulista, tenho meus métodos para enfrentar os dias mais gelados: camiseta de manga comprida, blusa, cachecol, gorro, luvas, cobertor, aquecedorzinho elétrico na hora do banho, bebidas quentes, e um colar cervical recheado de sementes de linhaça que dá para aquecer no microondas (comprei pela internet mesmo).
Eu sei, não tenho dúvidas, que cada um acaba encontrando seu jeitinho de se aquecer no inverno. Mas o importante mesmo é encarar com leveza e aproveitar a vida. Trocar informações e conversar com pessoas que enfrentam algo parecido – paraplegia, tetraplegia, quem sofreu acidente vascular cerebral (AVC), ou paralisia cerebral (PC), entre outros – em grupos de WhatsApp e redes sociais, é também uma excelente forma de conhecer outras opções, de diferentes culturas, lugares distantes, e ideias distintas para ter mais qualidade de vida, saúde e bem-estar.
Lembrem-se: somos fortes unidos. Tetraplégicos, uni-vos!
(Via Rafael Ferraz Carpi de Andrade Lima, jornalista e autor da coluna Tetraplégicos Unidos)
VOCÊ é muito importante para nós. Queremos ouvir SUA VOZ. Deixe seu comentário abaixo, após 'Related Posts'. Apoie este projeto: clique nas publicidades ou contribua.
Obrigada por compartilhar sua experiência Rafael. Não tinha informação sobre estes detalhes..!
ResponderExcluirEsse tipo de informação é realmente muito valiosa. Quem não passa por essa experiência não faz ideia destes detalhes. Agradeço ao Rafael Ferraz por detalhar essas coisas em seus textos. Parabéns.
ExcluirOlá Ana Paula, eu que lhe agradeço pelo interesse na leitura e participação. Abraços tetraplégicos,
ExcluirObrigada por compartilhar sua experiência Rafael. Não tinha informação sobre estes detalhes..!
ResponderExcluirRealmente frio é complicado, sofro porque a região sul é muito frio e então a musculatura ficar espastica e dolorida é consequências inevitaveis até pra mim que ja me acostumei no frio. Essa sensibilidade alterada também acaba comigo.
ResponderExcluirSim, é muito complicado. Nessas horas eu gostaria de morar no norte do país! Não sei o que seria de mim, se eu morasse no sul.
Excluir