Por um triz a cambaleante democracia não é enterrada de vez

Texto escrito por Fabio Nogueira, estudante de história e professor voluntário de pré vestibular comunitário.

Todos vão se lembrar no dia que o Ministro do STF, o decano Celso de Mello, pediu a orientação da PGR (Procuradoria Geral da República), sob o recolhimento do celular do presidente da república para averiguação. Toda essa história baseava-se na declaração do ex-ministro da justiça, Sérgio Moro, sobre a suposta intromissão do presidente Jair Bolsonaro no comando da Policia Federal (que gerou a demissão de Moro). Quem acompanhou o caso deve se lembrar que o Ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, esbravejou contra o ministro do STF, afirmando que era um abuso de poder abrir o sigilo do celular do presidente para averiguação. O ex-general e ministro jogou semente em terra fértil para quem quisesse colher e depois entender o que ele estava falando, que esta ação teria consequências sem precedentes. Para quem entendeu, poucas palavras já bastam.

Heleno diz que não se referiu a intervenção militar no caso de apreensão do celular de Bolsonaro - G1

A jornalista da Revista Piauí, Monica Gugliano, publicou que o presidente Jair Bolsonaro tinha a intenção de intervir com tropas na Corte Máxima da Justiça do Brasil para depor os ministros do STF. Em outras palavras: golpe! Não há outra definição.


VOU INTERVIR! O dia em que Bolsonaro decidiu mandar tropas para o Supremo - Piauí

Não é novidade que o presidente da república e seus imediatos mais próximos não nutrem nenhuma simpatia pela democracia e descaracterizam tudo que a república na sua raiz trouxe para nós. Antes mesmo da corrida eleitoral, o presidente dava sinais explícitos de que se dependesse dele, o Brasil não precisaria da Democracia para ser governada. Seus filhos seguiam a mesma ideia. O deputado federal e filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, inúmeras vezes jogava a indireta de que se as instituições não funcionassem conforme fosse a vontade deles, “para fechar o STF basta um soldado e um cabo”.

O presidente Bolsonaro é perigo real ao nosso país. Sua política fascista está expondo todo o ódio que o brasileiro carrega dentro de si, sabendo do histórico de violência de nosso povo. Ele vem usando dos órgãos de serviço de informação para uma prática bem parecida com o Macarthismo, nas décadas de 50 e 60, nos Estados Unidos. Todos os suspeitos de práticas consideradas subversivas eram monitorados e presos. Algo semelhante vem acontecendo e o ministro da justiça fazendo vistas grossas para o problema.

Estamos a caminho de um Estado policiado? Há oito meses escrevi para o site Comunica Tudo que a casca do ovo da serpente do fascismo estava para ser rompida.

Escrevi na época: "estamos testemunhando não só o ovo da serpente, os filhotes peçonhentos já nascem venenosos e acabam contaminando todos os desprevenidos e incautos. O sinal desse veneno vem tomando proporções que faz lembrar as mesmas medidas semelhantes dos Estados autoritários da Europa Fascista".

O filhote de serpente a princípio não causa medo, sorrateiramente penetra e envenena as instituições. O que ocorre são as ameaças feitas ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal para seu fechamento. Essas duas instituições, por mais que nos desagradem, são os pilares da República; o rompimento brusco são os chamativos para a implementação do autoritarismo neste país. Se dependesse somente do atual presidente da República e seus agentes, já estaríamos sob o domínio medo. 

Continuo: “Motivos que não faltam para implantar um regime nefasto. No Brasil, nota-se o viés conservador e opressor no seio da sociedade e este discurso ecoa também nas camadas mais desprotegidas do poder público. Além da polarização política, a invenção do “inimigo” imaginário, será o pretexto para a tomada de poder. Debates sob igualdade, distribuição de renda, direitos humanos e bem-estar social serão levados como assuntos de esquerdistas. Como se esses desejos fossem realmente de esquerda. ”

A casca do fascismo foi quebrada - Comunica Tudo

Fica a pergunta: até quando ficaremos olhando tudo de braços cruzados? Quando os chamados progressistas tirarão seus glúteos da cadeira e partirão para a ação de fato?

Há lideranças natas para começar, quem sabe, articulações para que Bolsonaro saía do poder pela via do voto, isto é, caso ele aceite a derrota num cenário para reeleição. Não se esqueçam que subestimamos o candidato Bolsonaro em 2018. Antes da data, afirmávamos que Jair Bolsonaro seria o bobo da corte. Lembre-se que o presidente tem 30% de popularidade. Bolsonaro tem o dom do discurso fácil. Quem se lembra do Kit gay e da mamadeira com pênis? A mentira pegou.

Lembre-se que este ano há eleições municipais que servirão de vitrine numa eventual corrida para o segundo mandato. Lembre-se que o auxílio-emergencial é dinheiro nosso e não do governo e está sendo usado para alavancar a corrida eleitoral.

A esquerda progressista está fazendo amadorismo. A discussão hoje na esquerda é quem fez a roda ou que sexo os anjos tem. O Brasil é motivo de piada no exterior. Estamos perdendo divisas e ganhando falta de seriedade e compromisso.

O presidente Jair Bolsonaro e o Ministro Augusto Heleno são os autênticos filhotes da ditadura. Ambos vivem no passado da sombra de 1964 e não acordaram desse sonho que insiste em viver em suas lembranças. Acrescente na mesma linha da ideia golpista o Ministro da Justiça e o Advogado da AGU que procuram o injustificável para legitimar o golpe. Não queremos que o pesadelo de 1964 volte e dure mais de duas décadas.

Parafraseando a atriz Regina Duarte: "tenho medo".

(Texto escrito por Fabio Nogueira, estudante de história e professor voluntário de pré vestibular comunitário.)