Texto escrito por Fabio Nogueira, estudante de história e professor voluntário de pré vestibular comunitário.
Quem me conhece sabe do histórico de militância pela igualdade racial. Há pouco estava vistoriando os meus arquivos pessoais e sinto orgulho de ter contribuído, de certa forma, para a implantação das políticas de cotas raciais na UERJ e depois em outras universidades. É uma experiência que nunca vou esquecer. Devo tudo isso ao pré-vestibular comunitário onde comecei a estudar no início dos anos 2000 e ao movimento social Educafro. O meu conceito de cidadania nasce a partir dessas experiências .
Não nasci no seio familiar onde o debate racial era constante. A influência patriarcal era repressora. Meu pai não era uma pessoa que pudesse elevar a autoestima (pelo menos a minha), ele repetia várias vezes aquela maldita fala que onde o preto passasse, deixaria seu registro fecal ou na entrada ou na saída, entenderam? Se dependesse do meu pai estaria reproduzindo o mesmo discurso opressor.
Desde pequeno sabia que havia algo de diferente entre negros e brancos, não tinha ideia da palavra racismo. Com o passar do tempo, na adolescência, passei a morder meus lábios com vergonha do popular beiço grande e hoje vejo quantas pessoas querem preencher os lábios para ficarem mais carnudos.
A construção do meu ideário preto foi paulatinamente sendo feito por meios de convívios de outros pretos e pretas de movimentos sociais. A construção dessa minha ideologia é feita diariamente por contatos de movimentos sociais, leituras e contribuição de outras pessoas.
Tenho quase 54 anos de idade e particularmente vejo na condição, de preto e cidadão, de repassar essa “pouca” experiência para outros e em especial para jovens pretos de periferia. Esses jovens, como eu, no passado não tinham a esperança do amanhã. Leciono história em pré-vestibular comunitário e umas das aulas que não abro mão são as aulas de História da África.
A história da África é primordial na construção da autoestima desses pretos e pretas das favelas. Não reproduzo aquela África de animais e povos exóticos, numa visão eurocêntrica. Falo da África e tudo que ele nos trouxe para o desenvolvimento da humanidade.
Ainda tenho muito que aprender. O pouco que tenho conhecimento transmito para todos. Falo da África e do preto na minha aula de campo e nos debates via redes sociais.
Estamos testemunhando manifestações de solidariedade e indignação na morte do trabalhador George Floyd, assassinato por um policial, no Estado de Minnesota. Em meio a tantos turbilhões que vem acontecendo por lá, observo algo significante que é o envolvimento de jovens ou não, negros, brancos e latinos. Há forte demonstração de uma sociedade pós-direitos civis que veio dizer bastar. Ao contrário do que acontece nos EUA, no Brasil, pouco manifesto houve por aqui. Se o morto for morador de favela, as redes sociais encarregam-se de condenar logo o morador dessa localidade.
Não nasci no seio familiar onde o debate racial era constante. A influência patriarcal era repressora. Meu pai não era uma pessoa que pudesse elevar a autoestima (pelo menos a minha), ele repetia várias vezes aquela maldita fala que onde o preto passasse, deixaria seu registro fecal ou na entrada ou na saída, entenderam? Se dependesse do meu pai estaria reproduzindo o mesmo discurso opressor.
Desde pequeno sabia que havia algo de diferente entre negros e brancos, não tinha ideia da palavra racismo. Com o passar do tempo, na adolescência, passei a morder meus lábios com vergonha do popular beiço grande e hoje vejo quantas pessoas querem preencher os lábios para ficarem mais carnudos.
A construção do meu ideário preto foi paulatinamente sendo feito por meios de convívios de outros pretos e pretas de movimentos sociais. A construção dessa minha ideologia é feita diariamente por contatos de movimentos sociais, leituras e contribuição de outras pessoas.
Tenho quase 54 anos de idade e particularmente vejo na condição, de preto e cidadão, de repassar essa “pouca” experiência para outros e em especial para jovens pretos de periferia. Esses jovens, como eu, no passado não tinham a esperança do amanhã. Leciono história em pré-vestibular comunitário e umas das aulas que não abro mão são as aulas de História da África.
A história da África é primordial na construção da autoestima desses pretos e pretas das favelas. Não reproduzo aquela África de animais e povos exóticos, numa visão eurocêntrica. Falo da África e tudo que ele nos trouxe para o desenvolvimento da humanidade.
Ainda tenho muito que aprender. O pouco que tenho conhecimento transmito para todos. Falo da África e do preto na minha aula de campo e nos debates via redes sociais.
Estamos testemunhando manifestações de solidariedade e indignação na morte do trabalhador George Floyd, assassinato por um policial, no Estado de Minnesota. Em meio a tantos turbilhões que vem acontecendo por lá, observo algo significante que é o envolvimento de jovens ou não, negros, brancos e latinos. Há forte demonstração de uma sociedade pós-direitos civis que veio dizer bastar. Ao contrário do que acontece nos EUA, no Brasil, pouco manifesto houve por aqui. Se o morto for morador de favela, as redes sociais encarregam-se de condenar logo o morador dessa localidade.
Não sei o que será do Brasil e do mundo depois desses tumultos. De qualquer modo, quero contribuir na formação de pretos e pretas na formação que não tive na juventude e às duras penas aprendi quando já adulto com mais de trinta anos. Ponha fé na geração de 80 para cá. Uma geração que graças as redes sociais está disposta a dividir seus direitos de brancos privilegiados que o racismo proporcionou.
(Texto escrito por Fabio Nogueira, estudante de história e professor voluntário de pré vestibular comunitário.)
Eu cresci achando no Brasil não havia racismo, pra mim racismo era apenas situações declaradas como o apartheid ou como nos filmes Hollywoodianos.
ResponderExcluirInfelizmente não ouvia história dos meus ancestrais e via, não pela minha família, mas pela sociedade dominante, que tudo que era de origem preta era ruim.
Hoje graças as ações sociais, como a Educafro, e pessoas como o professor Fábio, tenho ciência que estamos ainda em luta contra o racismo.
Obrigado por compartilhar sua experiência com todos. Isso é essencial.
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