Estávamos indo bem, até que...

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Por Fábio Idalino Alves Nogueira, Professor de História e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, acadêmico de Filosofia

Presidentes do Brasil


O caminho estava sendo traçado. Houve escândalos de corrupção, compra de voto, uma nova moeda e o processo eleitoral legítimo, presidentes cumprindo mandatos sem questionar as urnas.

Os anos oitentas foi a última década do regime militar (1964-1985). O General João Baptista Figueiredo cumpriu a promessa de devolver o país aos civis, que tinha uma hiperinflação na casa dos quatros dígitos.

José Sarney assume a presidência no lugar de Tancredo Neves (morreu após um mês internado) e convocou nos anos seguintes a assembleia nacional constituinte, que logo depois foi responsável pela sétima Carta Magna, a primeira que dava e garantia os direitos sociais, civis e trabalhistas. A constituição mais cidadã que há.

O Governo Sarney foi mal avaliado. Dois planos econômicos fracassados e a hiperinflação corroía o salário do trabalhador.

Fernando Collor de Mello, vexame. Foi o preferido da mídia corporativa que o escolheu como a cara da modernidade do Brasil. Com ar jovial, novo, palavras de efeitos e bonito. Pronto, bastou para encantar o público e o mercado financeiro internacional.

Num belo dia, o brasileiro sentiu-se 'sem chão e sem ação'. O dinheiro da poupança do contribuinte foi sequestrado. Descobriu-se um esquema chamado caixa dois, e após um ano e meio deixou o governo.

Itamar Franco, vice de Collor cumpriu o restante que sobrava do ex-presidente. Paulatinamente Itamar Fraco começava a arrumar o terreno para o sucessor em 1995. Lança a moeda que estabilizaria a economia, o Real.

Itamar Franco passa a faixa presidência ao sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Por dois mandatos FHC (como ficou conhecido) falou de cara em alto e bom som: “Adeus Era Vargas!”. Não entendi a mensagem, pois eu pertencia aos chamados de "senso comum". Não sabia o que se entendia por Era Vargas (passei a odiá-lo e depois admirá-lo). Não estava ciente que era o conceito de Estado e privatização, estava seguindo o senso comum de que todo serviço público era ineficiente.

Como citado no parágrafo acima, as privatizações ocorreram no Brasil de modo desenfreado por FHC, mas isso, foi uma onda na década de 90 que ficou marcada pelo fim da maioria dos países socialistas, e consequentemente pelo fim da Guerra Fria. A nova ordem global era o neoliberalismo com os seus dois maiores nomes, Margaret Thatcher e Ronald Reagan. Reformas políticas econômicas ocorrendo em vários países do mundo, e isso não seria diferente no hemisfério sul e no Brasil.

Fernando Henrique Cardoso começou a dar os primeiros passos para o combate à desigualdade social. Havia índices de desenvolvimento humano semelhantes aos países africanos. Programas sociais da época de FHC foram reorganizados e dinamizados depois pelos governos Lula e Dilma.

A partir de então testemunharíamos treze anos de governos de esquerda com bases nos movimentos sociais, Igrejas progressistas e sindicatos. Passaríamos por mudanças que mexeriam com lados sombrios das classes sociais mais ultraconservadora do país, afinal estamos falando de quase quatro séculos de escravidão, onde um diploma saindo das favelas gera ódio visceral.

O panorama contextualizado onde faço um rascunho na história do Brasil dos últimos quarenta anos é para mostrar ao leitor como foi o processo que redemocratizou o país. Neste interim houve acertos, erros, corrupção e queda de presidente. Algo em comum? Nos momentos mais críticos as instituições foram preservadas. Nenhum presidente, de José Sarney a Dilma Roussef, promoveu ataques do tipo fechamento do congresso e Justiça superior.

2014 com a disputa presidencial entre Aécio e Dilma. Aécio cogitou a possibilidade de as urnas eletrônicas serem fraudadas, uma maneira que a direita tentou “ganhar no grito” as eleições.

Em 2016 veio o “golpe” que culminou com o impeachment dando fim ao governo PT. Temer, presidente após a caída da Dilma, começou a abrir o campo à direita do Brasil.

Bolsonaro começou a ganhar corpo. Lula julgado imparcialmente pelo ex-Juiz Sérgio Moro, assim, obviamente o ex-presidente foi preso e não poderia se candidatar em 2018. Bolsonaro ganha as eleições e dá um cargo em seus ministérios ao Sérgio Moro – que coincidência! –, que futuramente rompem laços.

Na campanha de 2018 começou os jogos das Fake News e (de novo) a “dúvida” (da direita) sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, mas Jair Messias levou.

Com as derrapadas e escândalos de corrupção em seu (des)governo, o medo de Bolsonaro de perder as eleições de 2022 só aumenta. Cogitou em fechar o Congresso, o STF e novamente diz “não acreditar” nas urnas eletrônicas.

A ditadura militar ganhou forças pela direita no Brasil. Anos antes, em 1955 e em 1961 houve “ensaios” dos militares tomarem o poder, para o tal do comunismo não chegar aqui. Isso parece querer se repetir em alguns momentos atuais.

Voltando à época de 2013 a 2016, perdemos o rumo da história. O pacto foi arrancado à força. Esse ódio fica escancarado através dos anos do PT no poder. Cada ano que passava, mais o ódio aumentava. Fica claro que todo partido político tem seus erros e pode ser criticado. Portanto, o que foi observado, não é uma crítica, mas um ódio direcionado de uma parcela de pessoas ao Lula (e a Dilma), pois, não se sentiram diretamente “beneficiados” das políticas econômicas e sociais do Governo do PT. Apesar que o poder de compra aumentou em todas as classes. Portanto, as classes mais baixas e as minorias sentiram em maior escala o impacto positivo da política do governo Lula. De um certo modo, grande parte dos brasileiros começaram a financiar casas e automóveis; ingressar nas universidades por programas sociais, até viajar de avião e tirar férias; houve um aumento real do salário mínimo, além do governo aumentar o financiamento em educação (pesquisa), saúde e infraestrutura.

Os anos se passaram e o ódio só foi aumentando. O brasileiro médio que só lê a revista V*** e ouve a Rádio J**** P**, exterioriza seu ódio em violência verbal e física. Não se sente preocupado em ter tais atitudes, pois se sente “amparado” pelo seu presidente que destila discurso de ódio sem nenhum pudor. “Se o presidente fala o que pensa, sendo a ‘autoridade’ máxima, eu também posso”, assim pensa o “cidadão de bem”.

Esse ódio de uma parcela da população que se destila a quem “atrapalha” o atual (des)governo, para não perder de certa forma seus privilégios, se resume bem na frase do Milton Santos: “A classe média não quer direitos, ela quer privilégios, custe os direitos de quem custar”.

(Texto de Fábio Idalino Alves Nogueira, Professor de História e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, acadêmico de Filosofia).


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