Por Bruno Monteiro e Celso Sánchez
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Quanto custa a nossa vida? |
Quanto Vale Petrópolis e Jaboatão dos Guararapes?
Entre assombros e perguntas a lama presa no pescoço nos asfixia.
Quanto do Mito tem em cada pingo grosso de chuva em Petrópolis?
Quanto de SSalles tem em cada casa que desliza de Angra dos Reis até Jaboatão dos Guararapes?
Quanto de monarquistas e gente da "elite do atraso" há em cada tonelada de terra?
Quantos ratos, cabrais, garotinhos e com quantos fernões se produzem os maus tempos, vendavais e temporais na necropolítica da barreira e da barragem?
Quantos príncipes, duques, condes e barões dos “Modern Times” moram nas encostas, desfiladeiros e morros da cidade?
Quantas árvores são derrubadas na serra para se fazer um mourão? Pedaço de pau morto que fincado na mãe terra estabelece as fronteiras.
Quanto é o tamanho da fronteira entre a humanidade e a desumanidade estabelecida pelos territórios que permitem a morte triunfar sempre que chove?
Quanto é a conta dos que ali moram? Os sem tetos da chuva!
Quanto é a conta desses filhos da casa grande, da gente refinada, da branquitude imperial?
Quanto suor do nosso rosto é laudêmio, herança, cobrança e bonança dessa gente feitora rançosa, sebosa e ainda assim, cheia de ganância?
Quantos Pedros a cidade extorquida pelos vampiros em suas capitanias hereditárias e quantos capitães do mato do falso império essa cidade aguenta?
Quanto de: Dia do Fogo, de culto e alvoroço, ameaça e fome até o osso, quanto de "passar a boiada", de liberação de garimpo, de ataque a cada aldeia e cada quilombo, do desmonte do Ibama e da ICMbio a gente aguenta? Quanto?
Quanto tem dessas necrosacanagens em cada metro de lama que soterrou a criança recém-nascida em Petrópolis?
Quanto de bala, milícia, perdigotos e bíblia sagrada, de picaretas e falsos profetas tem em cada corpo afogado e arrastado?
Quanto foi arrecadado pela a transa sacana de dízimos vorazes e de jeitinhos, de dez porcentinhos e de presentinhos ?
89 mil vezes quanto?
Quantas "palavrasmundo" povoam as mentes petropolitanas e pernambucanas quando se escutam: barreira, deslizamento, enchente, morte, desabamento, transbordamento, inundação e enxurrada?
Ou simplesmente, chuva.?
Quanto?
Quanto Vale a lama que soterra vidas?
Quanto Laudêmio ainda vamos pagar?
De quanto estamos falando?
Quanto custa essa saudade que vai ficar?
Quanto o trabalhador tem de pagar para ter uma casa digna para morar?
Quanta terra são os 7 palmos de dignidade?
De quanto dessa lama podre e fétida é feita a alma dessa gente podre e estragada?
Enterraram nosso choro e nosso drama
Quanto custa a nossa vida?
Quanto? Quanto? Até quando?
Até quando Genival vai sufocar?
Até quando Bruno e Dom continuarão a serem mortos?
Até quando vamos esperar para saber quem mandou matar Marielle?
(Por Bruno Monteiro, Químico e Físico, Compositor e Baterista da banda Disrhythmia in Blues e Professor da UFRJ; e Celso Sánchez, Biólogo professor da Unirio poeta e compositor da Disrhythmia in Blues)
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