Por Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, graduando em Filosofia – Licenciatura e Graduado em Educação Física
Os termos “sou liberal nos costumes e conservador na economia”, ou “sou conservador nos costumes e liberal na economia”, ou algo dessa maneira, são termos errados. Costumes e economia estão totalmente interligados e um exemplo é o que se pode observar na história.
Voltamos para os anos 1700 e 1800. Vemos a Inglaterra, naquela época seu parlamento era composto em maior parte por conservadores (Aristocratas), donos de grandes propriedades de terras. Eles detinham o monopólio e possuíam a constituição ao seu lado, através das leis dos cereais (Corn Lawrs) – cereais eram considerados o milho e grãos no geral. Essa lei favorecia os grandes latifundiários porque o produto era o único que poderia estar circulando dentro da Inglaterra, pelo motivo de que o governo não queria que o dinheiro/ouro inglês saísse do país, pois se fosse possível comprar cereais de mercado estrangeiros, os donos de terras perderiam o seu monopólio.
As leis dos cereais existiam para que, se um comprador inglês comprasse grãos de outro país, na hora que o navio estrangeiro chegasse com a mercadoria, o imposto que a corte inglesa cobraria desse comprador, sairia por um preço maior do que se ele tivesse comprado no mercado interno, assim o monopólio dos aristocratas estaria mantido pela lei. Também estavam totalmente ligados aos termos como “família tradicional”, sem dar o poder da democracia do direito as mulheres de seu país e outras situações que infringiam a liberdade socioeconômica de outras minorias.
Os liberais como Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill, etc. eram contra essa lei, pois diziam que se pudessem comprar grãos de outros países, o dinheiro inglês iria circular e voltaria com mais poder pelos compradores de mercadorias produzidas pelos capitalistas ingleses. Argumentavam, mais especificamente, Stuart Mill, sobre o direito de as mulheres trabalharem e participarem da política. Com muita luta, a proposta reformista de Mill foi aceita. Contudo, com muitas mulheres ingressando no mercado de trabalho, os preços dos serviços delas eram mais baratos que dos homens, com isso, os homens ficaram desempregados cuidando dos lares e as mulheres iam trabalhar ganhando menos do que os homens ganhavam. Os liberais justificavam que a mão invisível regularia a economia, mas o que houve (e o que ocorre até os dias de hoje), foi um crescente número de migrações às cidades industriais, não havendo uma regulamentação para as questões sociais. O número da população dessas cidades aumentou significativamente e trouxe consequências negativas, como moradias precárias e sem saneamento básico, maior número de doenças, avanço da criminalidade, entre outras questões.
No ano da grande depressão econômica (1929), houve a quebra na bolsa de valores, como resultado, produtos perderam seu valor no mercado, fazendo com que os capitalistas jogassem literalmente fora as suas mercadorias para igualar “oferta e demanda”. Um exemplo foi o leite derramado em grandes quantidades pelas ruas das cidades de Nova York. Outro exemplo foi os fazendeiros que colocaram fogo nas plantações de cana no Brasil.
John Maynard Keynes publicou em 1936 a sua obra Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda, explicando que a intervenção do estado na economia é necessária para que não haja esses picos de depressão. Após a segunda guerra mundial (1939-1945), muitos países do primeiro mundo perceberam que era importante utilizar o estado para intervir na economia.
Os socialistas/comunistas buscavam a regulamentação do trabalho assalariado, com foco nas questões sociais, como educação e saúde. Também não concordavam com a mão de obra explorada e oprimida em qualquer fator, sendo contrários nas questões da escravidão que ocorria nas colônias dos países europeus. Com a Revolução Russa (1917-1923) e Vladimir Lenin no poder através da ideologia marxista-leninista, procuraram emancipar a classe dos oprimidos, como aceitar o direito para as mulheres: permitir a voz em sindicatos; direito da legitimação do aborto; direito da separação e o da cobrança de pensão alimentícia. Ao longo do tempo, houve influência do marxismo-leninismo nas lutas pela independência dos países africanos de seus colonizadores europeus, no século XX, como Burkina Faso, Mali, Gana, Angola, Moçambique, Guiné, Benim, Tanzânia, Zâmbia e Senegal.
Os anarquistas (libertários) surgiram como um movimento anticapitalista, promovendo os ideais revolucionários para acabar com a exploração sobre o ser humano. Diferente dos socialistas, eles defendiam a ideia de que as revoluções poderiam ocorrer a qualquer momento pois não se importavam com o desenvolvimento industrial do país. O Estado não seria usado como forma administrativa, mas iriam ser criadas federações e sindicatos para manter a ordem. Há vários anarquismos com seus ideais, sendo os principais pensadores: Piotr Kropotkin, Pierre-Joseph Proudhon, Mikhail Bakunin, Lev Tolstoi, entre outros. Uma revolução anarquista que houve, foi na Ucrânia, durou do início da Revolução Russa até 1919, liderada por Nestor Makhno, com o movimento Machnovista. O seu contingente tomou os grandes latifúndios e realizou uma reforma agrária, dividindo terras, equipamentos, ferramentas e máquinas entre os camponeses, além de todos trabalharem em conjunto, crianças, mulheres e homens. Havia eleições onde os líderes revezavam o poder em cada federação. Houve um plano educacional, em que a metodologia escolar buscava a espontaneidade e a independência dos alunos (sendo eles crianças e adultos). Uma prática que durou até a revolução russa se tornar socialista, e como a Ucrânia pertencia a União Soviética (URSS) na época, o movimento anarquista deixou de existir.
Existe o termo social-democrata, que defende a democracia burguesa, com eleições recorrentes. O capitalismo continua presente, porém há uma preocupação social, como saúde e educação gratuita. Contudo, essa ideologia é usada como exemplo em alguns países de primeiro mundo. Mas as pessoas que defendem essa política, se esquecem que esses países conseguiram se desenvolver através da exploração de suas colônias e/ou através da mão de obra escrava, estando em uma zona política favorável.
Atualmente, esses países fazem o que se conhece por neocolonialismo. O neocolonialismo é “desenvolvido” e não tão abstrato como nos séculos passados. Ele é realizado através das multinacionais que se instalam nos países de terceiro mundo e utilizam a mão de obra local, no qual o salário sendo pago na moeda local, fica mais econômico do que se fosse pago na moeda forte (Dólar, Euro, Libra, etc.) em seu país. Além da flexibilidade das leis (que as vezes não existem) em relação ao meio ambiente e da regulamentação do trabalho. Recebem subsídio, financiamento do governo local com juros baixíssimos. Quando se instala, ocorre uma mudança local socioeconômica (citada acima nesse texto), uma migração, que na maioria dos casos, a cidade local não está preparada para receber. A indústria produz a mercadoria e dificilmente o produto fica no país de origem, sendo vendido para fora, pois, para ficar na localidade, o mercado interno deve comprar pelo mesmo preço da moeda forte, e isso não compensa. Quando ocorre de o lugar não trazer estabilidade para essa multinacional, há a mudança de país, deixando um buraco de desemprego e escassez social no local. Nessa situação a social-democracia estará sendo benéfica para o povo de seu país desenvolvido e não para a população do país neocolonizado. Então a social-democracia pode ser considerada uma política liberal.
Finalizando, essas são algumas posições políticas no mundo atual. Algumas já não são mais utilizados na política de alguns países, porém, que ainda hoje marcaram e marcam a história social do mundo.
(Autor: Gabriel Luiz Campos Dalpiaz, graduando em Filosofia – Licenciatura e Graduado em Educação Física – Licenciatura/Bacharel. Email para contato: gcamposdalpiaz@gmail.com)
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