A primeira página de um jornal talvez seja a mais importante de todas por um bom motivo: nem todo mundo compra ou lê o impresso, mas todos o...
A primeira página de um jornal talvez seja a mais importante de todas por um bom motivo: nem todo mundo compra ou lê o impresso, mas todos observam a primeira página em exposição nas bancas de revistas, salas de espera, etc. Os jornalões sabem disso e mesmo quando se dedicam ao jornalismo ético nas páginas internas, utilizam a primeira página para gerar polêmica ou sensacionalismo, pois este pequeno exercício de espetáculo vende e dá lucro.
Sendo assim, vejamos as primeiras páginas do jornal O Globo entre os dias 17 e 21 de outubro desta semana. Façamos um exercício rápido de leitura semiótica sobre o jornal.
Segunda-feira, dia 17 de outubro. Nada melhor do que destacar o futebol ocorrido no fim de semana, algo que o povo já viu pelo televisor ou computador no domingo. Logo abaixo, uma grande foto destacando Cielo no Pan de Guadalajara, talvez para rebater as críticas que as Organizações Globo sofreram nos dias 14, 15 e 16, de que estavam se negando a noticiar o maior evento esportivo das Américas só porque a cobertura ficou com a concorrente Record. No canto inferior direito, o chargista veste Aécio Neves de super-homem, fazendo desde já uma associação de ideias que a direita pretende emplacar até 2014: Aécio (super-homem) presidente.
Antes de qualquer coisa, é preciso ler a definição encontrada no Wikipedia para o termo charge: Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém ou de algo para torná-lo burlesco. Muito utilizadas em críticas políticas no Brasil. A charge, enquanto crítica subjetiva, cresce do cantinho inferior para cerca de 25% da primeira página. A intenção é polemizar o que diz a manchete do jornal, que simplesmente colocou o ministro numa corda-bamba. Os leitores mais ingênuos podiam esperar que no dia seguinte veriam a demissão de Orlando Silva. Qual é o escândalo? Uma série de acusações feitas por uma única pessoa e publicadas inicialmente na mesma revista incrível de sempre: a Veja. Provas? Nenhuma.
Barulho da mídia? É só o que existe em mais uma tentativa de se derrubar um ministro na mesma semana em que, por coincidência, a cúpula da Fifa está reunida num país de primeiro mundo na Europa. A Fifa anda bravinha com o governo brasileiro só porque ele quer cortar algumas de suas regalias (regalia = dinheiro). Aliás, por outra coincidência, as acusações sobre o ministro do Esporte acontecem na mesma semana em que decidem para onde vai a abertura da Copa de 2014: para Itaquera, em São Paulo.
No dia 19 a charge de crítica política volta ao seu cantinho inferior, não derrubaram o ministro, mas utilizam uma foto sua com a mão no queixo, simbolizando O pensador de Rodin num momento delicado e cheio de preocupações. Tudo tão simbólico quanto crível. O motivo para ganhar mais uma manchete e tamanho espaço na primeira página? Nenhum. Fatos novos? Nenhum. Apenas as acusações da mesma única pessoa na qual a revista Veja se baseou para criar um escândalo político sem nenhuma prova. Para o jornal O Globo, a simples acusação de uma única pessoa já é motivo de virar manchete. É o melhor estilo do Jornalismo Vaudeville.
Na quinta-feira foi a hora de retomar a tentativa de derrubada de um ministro. A mídia já derrubou alguns em 2011. A charge de crítica política volta a tomar o espaço principal do jornal. Quais os fatos novos? Nenhum. Então é preciso criar, pois jornalismo para O Globo, se faz com criatividade e não com apuração. Então coloca lá: Planalto já avisou que PC do B perderá Esporte. Perguntei-me: quem é esse Planalto que avisou o Partido Comunista? Fui pesquisar no Google e descobri que o nome completo é Palácio do Planalto. Achei o nome ainda mais esquisito e fui pesquisar fotos desta pessoa que fez o aviso. Só então descobri que o Planalto, esse que avisou o jornal O Globo mas não falou nada para a presidenta Dilma, é o nome oficial do Palácio dos Despachos da Presidência da República Federativa do Brasil, segundo o Wikipedia. Enfim, mesmo com muita criatividade, está difícil derrubar alguém. Quem sabe na sexta o político cai.
Não foi ministro, nem foi no Brasil, mas no dia 21 o jornal satisfez seu desejo de derrubar alguém. Para tanto, não economizou no sensacionalismo e no sangue: estampou a primeira página com uma foto digna dos jornais mais popularescos deste país. A charge de crítica política volta ao seu habitual espaço, o cantinho inferior. Foi por estes dias que O Globo estampou numa das páginas internas do impresso uma foto de dois braços mutilados. Uma cena horrível e desnecessária que eu jamais teria visto, não fosse a decisão estúpida de um editor. Para o ditador ensanguentado ainda sobrou um caderno especial, com direito a muito mais sangue. Assim, de modo simbólico, podemos entender o que deseja o jornal e como ele conquista seus desejos.
Sendo assim, vejamos as primeiras páginas do jornal O Globo entre os dias 17 e 21 de outubro desta semana. Façamos um exercício rápido de leitura semiótica sobre o jornal.
Publicação do dia 17/10/2011. Clique na imagem para ver em tamanho maior |
Segunda-feira, dia 17 de outubro. Nada melhor do que destacar o futebol ocorrido no fim de semana, algo que o povo já viu pelo televisor ou computador no domingo. Logo abaixo, uma grande foto destacando Cielo no Pan de Guadalajara, talvez para rebater as críticas que as Organizações Globo sofreram nos dias 14, 15 e 16, de que estavam se negando a noticiar o maior evento esportivo das Américas só porque a cobertura ficou com a concorrente Record. No canto inferior direito, o chargista veste Aécio Neves de super-homem, fazendo desde já uma associação de ideias que a direita pretende emplacar até 2014: Aécio (super-homem) presidente.
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Barulho da mídia? É só o que existe em mais uma tentativa de se derrubar um ministro na mesma semana em que, por coincidência, a cúpula da Fifa está reunida num país de primeiro mundo na Europa. A Fifa anda bravinha com o governo brasileiro só porque ele quer cortar algumas de suas regalias (regalia = dinheiro). Aliás, por outra coincidência, as acusações sobre o ministro do Esporte acontecem na mesma semana em que decidem para onde vai a abertura da Copa de 2014: para Itaquera, em São Paulo.
Publicação do dia 19/10/2011. Clique na imagem para ver em tamanho maior |
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Publicação do dia 21/10/2011. Clique na imagem para ver em tamanho maior |
Eu fico pensando na quantidade de pessoas que essa mídia podre manipula...como vamos parar isso? quando as pessoas vão ser livres do capital?
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