Semana de Arte Moderna de 1922

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O acontecimento Ocorreu nos dias 13 (pintura e escultura), 15 (poesia e literatura) e 17 (música) de fevereiro de 1922 e ficou conhecida com...

O acontecimento

Ocorreu nos dias 13 (pintura e escultura), 15 (poesia e literatura) e 17 (música) de fevereiro de 1922 e ficou conhecida como a “Semana de Arte Moderna”. No primeiro dia Graça Aranha proferiu a conferência “A emoção estética na arte”. No dia 15, Oswald de Andrade leu alguns poemas e Mário de Andrade fez uma palestra “A escrava não é Isaura”. No último dia, houve apresentação de Villa-Lobos. Embora contido no primeiro dia, o público começou a vaiar no segundo e terceiro. A imprensa permaneceu mais contida pelo envolvimento de alguns redatores intelectuais com a Semana.

Origens e fim

Sobre o surgimento da Semana de 1922, Mário de Andrade afirmou: “por mim, não sei quem foi, nunca soube, só posso garantir que não fui eu”. Mas com registros do livro de memórias de Di Cavalcanti, registrou-se o provável idealizador (ele próprio) baseando-se na Semana de Deauville, França. Sugeriu a Paulo Prado a realização de “uma semana de escândalos literários e artísticos de meter estribos na burguesiazinha paulistana”.
O modernismo brasileiro foi influenciado pelo Futurismo, trazido por Oswald de Andrade em 1912. As exposições de 1913 do russo Lasar Segall, como mostras não acadêmicas, também entusiasmaram modernistas. No ano seguinte, chegada da Alemanha, Anita Malfatti expôs obras expressionistas. “Juca Mulato”, de Menotti Del Picchia; “Cinzas das Horas” de Manuel Bandeira e “Carrilhões”, de Murilo Araújo, surgidos em 1917, já traziam em si transformações pelas quais passaria a literatura brasileira. No mesmo ano, uma vez mais Anita expôs quadros cubistas ao chegar de outra viagem. Sobre esta exposição, Monteiro Lobato publicou artigo na época atacando a mostra, servindo para reunir outros artistas em defesa de Anita. Dos 8 quadros vendidos, 3 foram devolvidos após a publicação do artigo, ainda assim, Oswald, Mário e Menotti reuniram-se a Anita para destruir toda a arte do passado. Sem querer, o nobre escritor Lobato acabou colaborando com o modernismo.

De fato, os modernistas queriam romper com a arte que empolgava a burguesia a partir de inovações trazidas da Europa. Ainda que, contraditoriamente, seus constituintes também fossem burgueses, o desejo manifestava-se contra o hábito idólatra e artisticamente servil de pessoas aparentemente sem cultura. Também queriam romper com a arte servil que praticavam, queriam algo brasileiro, novo. Mais do que um estilo artístico, o movimento fundamentou-se como atitude histórica perante a arte nacional e por extensão, social e política. Refletiam intensamente sobre a diversidade e pluralidade da vida brasileira.
No cerne do movimento encontravam-se forças antagônicas como ruptura e continuidade, atualizar e interiorizar, exportar e importar. No fundo, o movimento é fruto de um processo de insatisfação artística não nascida de um dia para outro. Envolveu todo um processo de conhecimento e busca de outras formas de arte no mundo. Vale lembrar que a Semana de 22 não teve muita participação do público em geral e sua maior repercussão se fez sentir com o passar do tempo. Nem por isso, deixou de marcar profundamente a história da arte no Brasil.
As tais forças antagônicas pulsantes no cerne do movimento ficavam mais evidentes entre 1922 e 1928, quando se multiplicaram grupos rivais e inúmeras tendências. A revista Klaxon, o Manifesto Pau-Brasil, A Revista, a Escola da Anta, e o Antropofagismo, entre outros, acabou por diluir o grupo modernista em diferentes correntes de atuação, mas permitiu uma abordagem ampla de toda a diversidade brasileira. Plínio Salgado, por exemplo, mais tarde fundaria a AIB (Ação Integralista Brasileira), uma organização política nacionalista com ideais e seguidores presentes até os dias atuais.



Os participantes

Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Plínio Salgado, Sérgio Milliet, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Menotti Del Picchia, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Goeldi, Vitor Brecheret, Antônio Garcia Moya, Georg Przyrembel, Villa-Lobos, Guiomar Novais, Yvonne Daumerie.

O significado

A semana de 1922 representou o lançamento do Modernismo Brasileiro, como ruptura com as tradições acadêmicas, a atualização das artes e o encontro de uma língua autenticamente brasileira. Em 1930, Mário de Andrade referiu-se ao evento como “a maior orgia intelectual que a história artística registra”.
Nesta época do início do século XX, a capital de São Paulo crescia em ritmo assustador, tornando-se a cidade de maior crescimento no mundo. Os cidadãos buscavam explicações e conceitos para compreender melhor a cidade que nunca parava. A própria palavra “moderno” era moda naqueles anos e usada em várias situações diferentes.
Os modernistas aprimoraram uma linguagem brasileira ao olhar para o interior do próprio Brasil e expressar sua história através das artes. Foi um momento singular da arte, já que a pintura influenciava a literatura modernista. Hoje não se pode pensar nenhum setor das artes que não tenha sofrido forte influência modernista. Surgido como inquietação artística, o movimento difundiu novos debates em todo o país.




Elaborado e escrito por Marcelo A. D'Amico.

Fontes
Semana de Arte Moderna - Webdocumentário desenvolvido por alunos do 3º ano de Jornalismo da PUC-Campinas, sobre a orientação da Prof(a). Ângela Grossi.
Sevcenko, Nicolau. Transformações da linguagem e advento da cultura modernista no Brasil.

COMMENTS

BLOGGER: 2
  1. Infelizmente, meu caro amigo, tais conceitos, novos conceitos, ainda não são aceitos ou pelo menos foram interiorizados pelo povo brasileiro, os leitores em geral. Existe ainda uma visão parnasiana de tudo que é arte, como se fôssemos reprodutores da arte clássica.
    Nós, educadores, lutamos contra uma corrente de medíocres leitores de arte. Muitos deles, desses educadores ainda são pseudo-franceses e somente incentivam a leitura do que são capazes de entender ou simplificadamente, emocionar.
    A realidade diz que a leitura da Semana é apenas privilégio de certos intelectuais que estão presos nas universidades do Brasil, nas grandes universidades apenas.
    Para mim, a produção desse período é distante demais dos jovens, velhos e qualquer bêbado metido a artista.
    Isto para mim é sinônimo de subdesenvolvimento, retrocesso, centralização do poder e uma grandiosa falta de respeito com o próximo, pois negar o princípio da intelectualidade deve ser o pior dos pecados.
    Valeu pela matéria.
    É preciso muita reflexão sobre esse tema e suas obras e autores. É um tempo de muitas riquezas artísticas, demora para entender. Muita coisa deve ser descoberta ainda.

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  2. Nós, brasileiros, ainda não assimilamos os últimos cem anos da arte no Brasil. Será que assimilamos os últimos cem anos da política, do social, do respeito, etc?

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