Lindemberg está em todos os lugares, assim como esteve os Nardoni. Dezenas de especialistas são ouvidos por dezenas de jornalistas e apr...
Lindemberg está em todos os lugares, assim como esteve os Nardoni. Dezenas de especialistas são ouvidos por dezenas de jornalistas e apresentadores em seus programas de tv, rádio e internet, na tentativa de explicar o ocorrido. Particularmente, sinto falta da presença de especialistas da comunicação para avaliar a mídia que, como sempre, é inquestionável em sua conduta.
Hoje, um psiquiatra conseguiu diagnosticar Lindemberg como portador de um transtorno bi-polar, o que se for atestado pela comunidade científica, irá mudar os rumos da psiquiatria nos quesitos: como diagnosticar alguém com quem nunca se teve contato, que nunca foi estudado anteriormente e, portanto, não existem laudos que orientem esta conduta, além de apenas se conhecer esta pessoa pelas imagens e palavras exibidas pela mídia?
Isto é ilustrativo de uma mídia enlouquecida por audiência, cobrindo o caso de um jovem enlouquecido por ciúmes, com telespectadores enlouquecidos por qualquer informação. A lista de bobeiras e diagnósticos que se fazem em segundos de conversação é enorme. Outro dado interessante: jornalistas questionados sobre sua conduta profissional explicaram-se dizendo "apenas fiz o meu trabalho", entendendo-se por jornalista um cidadão formado em jornalismo e, portanto, conhecedor da área de comunicação, que deve ter assistido ao filme "A Montanha dos Sete Abutres" em seu tempo de faculdade. Quer dizer, isto é o mínimo que se pode esperar.
O comando da operação durante o sequestro, talvez com outras palavras, disse algo parecido: "estávamos sob tensão e fizemos nosso trabalho, tínhamos que fazer escolhas". Particularmente, desconhecia que apenas policiais estivessem tensos e possuíam escolhas a fazer. Achei que os pais das vítimas também estivessem tensos e tinham escolhas pra fazer; achei que os repórteres cobrindo o sequestro também estivessem tensos e tinham escolhas pra fazer (como fugir do tiro que Lindemberg deu em direção da imprensa); achei que os moradores do prédio, proibidos de entrar ou sair de seus apartamentos, também estivessem tensos e tinham escolhas pra fazer; aliás, achei que o próprio sequestrador estivesse tenso com a situação agressiva que causou, por decisão própria, e que também tinha escolhas pra fazer. Havia muita gente tensa, talvez a totalidade dos envolvidos na situação, e pasmem: todos tinham de fazer escolhas!
Mas, enfim, se jornalistas cobrindo o caso só fizeram seu trabalho, e se policiais também só fizeram seu trabalho, o que faltou então? Se o trabalho fosse apenas feito, o resultado seria diferente? Talvez não?
Durante a coletiva de imprensa, um dos comandantes da operação, questionado se deixaria seu filho na mesma situação de Nayara ao voltar para o cativeiro, pudemos ouvir um SIM. Talvez, jornalista e comandante desconheçam que este tipo de situação foi absolutamente inesperado e jamais permitido dentro de uma negociação de sequestro. Devo parafrasear Fernando Pessoa: tudo vale a pena, quando a audiência não é pequena.
Policiais do GATE agora falam sobre a falta de equipamento (usaram a mídia para tudo, menos para isso), que o descaso dos políticos com a polícia é grande e bastante antigo (podemos notar isto num manisfesto entre policiais civis e militares em São Paulo, semana passada, que acabou em pancadaria e tiroteio). Mas quando citam a polícia de São Paulo como uma das melhores do país em conduzir casos de sequestro com final feliz, não se atribue o sucesso aos políticos, nem se reclama da falta de equipamentos. Quando se fala que em sete anos a polícia de São Paulo diminuiu 70% dos homicídios, não se reclama dos políticos e nem se fala da falta de equipamentos. Como dizem os populares: "filho feio não tem pai".
Além de todos estes problemas, ainda consegue-se iniciar uma espécie de histeria geral. Hoje pela manhã vi uma reportagem exibindo os pais de uma garota agradecendo por sua filha ter desistido de namorar um rapaz mais velho, como se todo homem mais velho fosse um facínora.
Além das vítimas do sequestro de Santo André, outro coitado que há tempos vem sofrendo, também parece ter sido sequestrado de nossas mentes: o bom senso! Quem pagará por este resgate?
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Ótimo pensamento...
ResponderExcluirEspero que muitas pessoas leiam com atenção e comentem o que acharam deste evento.
Faltam pensadores...tivemos mais ação..igual a um filme de sessão da tarde..
Gerãção imagética.
Ana Paula
Lembrando-se queGlobo, Record e Rede TV entrevistaram Lindemberg durante o sequestro. Todos querem audiência e exclusividade. Mas será que pensaram na vida de Eloá e Nayara ao conseguir estas entrevistas e alterar a negociação do sequestro?
ResponderExcluiro reporter luis guerra da redetv começou a entrevistar lindeberg dizendo que era amigo da familia, depois diz que era reporter. o procurador de justiça disse que não conseguia negociar com o sequestrador, porque toda a imprensa estava ligando para ele, pra falar com ele. a cris flores e o brito jr, assim como sonia abrao, disseram que só estavam fazendo seu trabalho. tudo vale a pena, quando a audiencia não é pequena.
ResponderExcluirJoão.
É de excelentíssimo agrado dizer que tenho algumas semelhanças físicas com o Nelson Rodrigues. rs Considero-o meu mestre, já que minha produção literária sofre bastante influência de suas obras, o erotismo e a tragédia juntos. rs
ResponderExcluirQuando puder, visite meu blog. Sempre bom lhe tê-lo como leitor.
Muito bom esse seu ultimo post.
Abraço.
Olá, Marcelo
ResponderExcluirSem dúvida, uma sequência de erros que culminou com a morte de Eloá e outros tantos que continuam acontecendo, no sentido de aliviar a culpa ou até mesmo inocentar os (ir)responsáveis por este desfecho.
Parabéns pelo seu trabalho...é de jornalistas como você que precisamos...com urgência !!!